Foi com grande prazer que aceitei escrever algumas linhas de introdução para esta exposição, a pedido de Elisa Santos.Aliás, devo confessar que esta é para mim uma oportunidade de confrontar-me de novo com a criação artística moçambicana e de encorajar os jovens artistas na cena de arte contemporânea do vosso país.
Após quatro anos maravilhosos passados em Maputo, é possível fazer uma retrospecção. Evidentemente, devo reconhecer que a minha estadia foi curta demais para ter a pretensão de conhecer bem o trabalho artístico de um oute doutro; irei até mais longe afirmando categoricamente que é impossível ter uma ideia exacta e definitiva da realidade da criação artística em Maputo, em Moçambique, em tão pouco tempo. Apesar disso, o que posso afirmar sem equívoco, é que no domínio da arte há uma verdadeira vitalidade em Maputo. Faço votos para que novos rebentos apareçam e comecem até a desabrochar ao lado destas plantas luxuriantes que são os grandes mestres moçambicanos como Malangatana e Reinata Sadimba, sem esquecer aqueles cujo desparecimento físico é motivo de lamentação tcomo Ricardo Rangel, Alberto Chissano e Zandamela.
Doravante, a arte africana contemporânea tem um lugar no firmamento da arte contemporânea.É deste modo que este ano, pela primeira vez, a feira “ArtsParis+guest” cujo comissariado está a cargo do Suiço Lorenzo Rudolph, acolherá de 18 a 20 de Março uma sala de exposições designada “Afriques” na qual serão apresentadas obras de artistas de cerca de 15 países da África sub-sahariana, entre as quais figuram duas obras de Gonçalo Mabunda.
Artistas de quase todos os países do continente, especialmente da África austral estão presentes nas exposições e feiras internacionais do mundo inteiro. Alguns ocupam um lugar de destaque no mercado de arte ao mesmo nível que os artistas Europeus, Norte-Americanos, Chineses e outros, sem porém atingir o nível de venda das vedetas do Norte ou do Oriente.
Não restam dúvidas que os artistas Sul Africanos são os mais numerosos do continente a expor na Europa, na América e noutros lugares, o que não significa que sejam os únicos artistas africanos presentes; metaforicamente falando, podem ser considerados como locomotivas de toda criação contemporânea de África. Não obstante, a originalidade e a diversidade da criação moçambicana dão-lhe uma verdadeira legitimidade ao nível continental e um lugar de destaque na cena internacional.
Durante a minha estadia em Maputo, sempre acreditei que existia uma singularidade de raíz na expressão artística moçambicana enaltecida, por um lado, pela recente história do país, por outro, pela história mais antiga através das culturas ancestrais ainda muito visíveis presentemente. São estas raízes profundas e as políticas culturais adoptadas logo após a independência em nome da unidade nacional, que deram esta originalidade e esta força à expressão artística de Moçambique.
Senão vejamos, como explicar o nascimento da escola moçambicana de fotografia sem referir-se à boa vontade política que permitiu ao Ricardo Rangel fundar o seu centro e formar uma nova geração de fotógrafos dentre os quais figura Mauro Pinto?
Como explicar o sucesso das esculturas de Gonçalo Mabunda sem evocar as recentes guerras que abalaram esta região e a vontade dos políticos de virar a página deste período trágico exaltando a cultura de paz?
Como explicar a presença dos jovens artistas tais como Lourenço Dinis Pinto e Celestino Mudaulane sem evocar o fantástico trabalho realizado pela escola de Artes visuais?
À semelhança de um Gemuce e dos membros do colectivo Muvart, os artistas moçambicanos são doravante conhecidos e recnonhecidos pelos seus homólogos do continente. Estão presentes em todas grandes manifestações realizadas em África, na Europa e nos outros cantos do muundo, com uma dimensão internacional.
Além disso, gostaria de sublinhar a importância da presença de mulheres-artistas em todas manifestações; a representação, a sensibilidade e as qualidades destas em tanto que criadoras confere-lhes um lugar legítimo de destaque e necessário no mundo da arte contemporânea. Sendo assim, endereço os meus melhores cumprimentos, calorosos e respeitosos à Maimuna Adam.
Voltando à exposição em destaque, acho que é uma ideia muito pertinente, “manchar” o espaço urbano apresentando algumas obras destes seis artistas em seis lugares diferentes da cidade de Maputo. Como dizia o artista francês Claude Lévêque, “é preciso colocar a arte onde ela é indispensável, isto é, por toda parte”.
Na medida do possível, é fundamental ir ao encontro do público e fazer com que haja um verdadeiro encontro entre o criador e o cidadão. A obra de Arte existe graças ao génio do seu criador, mas também graças ao olhar do espectador: “são os observadores que fazem os quadros” Marcel Duchamp.
Tenho apenas uma lamentação a apresentar: a de não poder estar entre vós e partilhar este momento de emoção visitando esta magnífica exposição.
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