OCUPAÇÕES temporárias 20.10
Exactamente como o título indica, esta exposição define-se pela ocupação temporária de um determinado espaço, ou de um conjunto de espaços, com obras de arte contemporânea. A presença de obras artísticas nestes espaços não formais, ou territórios com vocação de lugares públicos dar-lhes-á outro tipo de visibilidade e poderá potenciá-los como lugares iconográficos e simbólicos na história da cidade de Maputo.
Conceptualmente, esta proposta visa permitir uma nova leitura de obras e de espaços. É uma abertura ao olhar do cidadão que é convidado a visitar e a ocupar áreas, mais ou menos reservadas, que estão fora do seu roteiro diário de vivência da cidade, apesar de serem locais “conhecidos”. Da mesma forma, pretende-se favorecer o contacto do público com a arte, neste caso, com a arte de artistas moçambicanos , “entidade” tantas vezes mencionada nos discursos diários mas que, habitualmente, se expõe em locais reservados, “fora de mão”.
As ocupações, propositadamente, optaram por não efectuar alterações do espaço físico onde ocorrem. Não há lugar para o derrube de paredes ou a construção de estruturas. Há contudo a intenção de “perturbar” o espaço público: o espaço público físico através da presença das obras de arte e o espaço público de opinião e de discussão através das temáticas que cada artista aborda.
Pensada como uma rota pela cidade, numa evocação às rotas do “Chapa”, a exposição contém seis exposições. Pode começar-se por qualquer uma delas, fazer o percurso todo ou apenas parte, dividi-lo em diferentes etapas ou cumprir tudo de uma vez.
A ironia do título da ocupação “Eu quando era o último” de Gonçalo Mabunda mora nos materiais esgotados e rejeitados que o artista ressuscita, regenera e reintegra, exibindo-os num espaço último do Clube Ferroviário, clube de vitórias, onde apenas a condição de ser o vencedor, de ser o primeiro se valoriza.
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A intervenção de Maimuna Adam remexe com a memória e com as relações que vamos construindo, com os locais e com as coisas que manuseamos diariamente.
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Na exposição permanente da Sala Etnografia do Museu de História Natural, encontramos, sem que nos choque, os desenhos de Pinto. Esta “Etnografia Contemporânea” elimina os intervalos do tempo e coloca, lado a lado, o ancestral e o actual, numa narrativa sem sobressaltos, que nos impele à análise crítica dos nossos gestos quotidianos, como se de antiguidades se tratassem.
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As “Ocupações temporárias 20.10” são seis discursos de seis artistas, escolhendo cada um o sítio mais propício para nos falar do que o perturba mas também do que a sua arte propõe para nos “ocupar”.
E. Santos
Maputo, Março 2010
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