Ocupar
a ’morada‘ do Mindelo, ou seja, a cidade central e carismática da capital de S.
Vicente, com o tema “Estrangeiros”, pode ser uma redundância, dada a história
do arquipélago de Cabo Verde e desta ilha em particular. Abordar esta temática
numa cidade, que se fundou como entreposto de carvão para navios ingleses,
servindo a rota Atlântica que liga a Europa à América, é correr o risco do
discurso quase historicista da identidade crioula que tem feito também a rota
das migrações.
A
proposta feita aos artistas Abrão Vicente, Bento Oliveira, Diogo Bento (em
parceria com o coletivo Oficina de Utopias), Nenass Almeida e Nuno Pina,
pretendia uma reflexão sobre quem são os estrangeiros hoje no Mindelo, quais as
fronteiras, tangíveis e imateriais, que delimitam a pertença, quantos
territórios existem, como se distingue o eu do outro.
O que os artistas
apresentam vai para lá da identidade nacional e traz para a praça pública
urgências próprias da cidadania, como sejam o emprego, a habitação, a
mobilidade e a identidade cultural ou religiosa.
Trazer
para o Mindelo os trabalhos de Paulo Kapela e Rui Tenreiro, apresentados em
Maputo, nas Ocupações Temporárias 20.12 com o mesmo tema, integrando-os no
circuito da cidade e da exposição, é uma opção pela diversidade de linguagens e
de suportes artísticos, mas também de referências e de vivências, que podem
enriquecer a ’discussão‘ ou, pelo menos, suscitar novos ângulos de observação
da mesma problemática, desde logo um ângulo diferente, porque será desenhado a
partir da rua.
Elisa
Santos
Mindelo,
03/13
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