Começam no próximo dia 2 de Abril as montagens da exposição Ocupações Temporárias - Documentos, na Fundação Calouste Gulbenkian. Vamos ocupar a galeria do piso 01.
Fez-se o desenho, tiraram-se medidas, fez-se a maquete. Já começamos a ocupar.
Já chegaram obras, aguardam-se outras e outras ainda serão feitas no local.
E os artistas também vão chegar.
sábado, 30 de março de 2013
sexta-feira, 22 de março de 2013
LISBOA
Em Abril de 2010 a ativista cultural Elisa Santos iniciou em Maputo as
“Ocupações Temporárias”. Tratou-se de um projeto de cultura artística
contemporânea com uma forte intervenção no espaço público desta cidade. Para
esta primeira edição o problema apresentado aos artistas para ser exposto na
vida quotidiana do Maputo foi o património arquitetónico. Em 2011 voltou a
produzir as “Ocupações”, inaugurando-as no dia em que se assinalavam dez anos
sobre o ataque das torres gémeas de Nova Iorque e o tema não podia ser mais
explícito: juntar a precaridade, e até a rusticidade das intervenções, ao
sentido global de perda de segurança associado ao da perda de liberdade e de
cidadania que caracterizam as nossas sociedades contemporâneas. Em 2012 a
terceira edição realizou-se com o patrocínio dos Programas Gulbenkian Próximo
Futuro e Ajuda ao Desenvolvimento e traduziu-se na produção de intervenções sob
o tema “Estrangeiros”, maioritariamente feitas em espaços estrangeiros na
cidade de Maputo, nomeadamente embaixadas e o aeroporto internacional.
Em 2013, depois de uma acumulação de
experiências com a intervenção no Mindelo, temos as “Ocupações” em Lisboa. Já não terão necessariamente o propósito e os contornos das primeiras “Ocupações”, mas, considerando a importância do método e da pertinência de muitos dos trabalhos realizados, as “Ocupações Temporárias - Documentos” serão o testemunho documental de um processo, um arquivo recente material, com os objetos ou as suas réplicas (entretanto produzidas durante estes três anos), dando assim visibilidade a um conjunto de obras em tensão ou convivialidade entre si e os espaços que ocuparam e que constituem um marco de passagem para as “Ocupações” que se seguirão.
Em 2013, depois de uma acumulação de
experiências com a intervenção no Mindelo, temos as “Ocupações” em Lisboa. Já não terão necessariamente o propósito e os contornos das primeiras “Ocupações”, mas, considerando a importância do método e da pertinência de muitos dos trabalhos realizados, as “Ocupações Temporárias - Documentos” serão o testemunho documental de um processo, um arquivo recente material, com os objetos ou as suas réplicas (entretanto produzidas durante estes três anos), dando assim visibilidade a um conjunto de obras em tensão ou convivialidade entre si e os espaços que ocuparam e que constituem um marco de passagem para as “Ocupações” que se seguirão.
Ocupações Temporárias – Documentos
12 de Abril a 26 de Maio de 2013
Fundação Calouste Gulbenkian
Edifício Sede, galeria de exposições temporárias, piso 01
terça a domingo, 10h -18h, entrada livre
quarta-feira, 6 de março de 2013
MINDELO
Ocupar
a ’morada‘ do Mindelo, ou seja, a cidade central e carismática da capital de S.
Vicente, com o tema “Estrangeiros”, pode ser uma redundância, dada a história
do arquipélago de Cabo Verde e desta ilha em particular. Abordar esta temática
numa cidade, que se fundou como entreposto de carvão para navios ingleses,
servindo a rota Atlântica que liga a Europa à América, é correr o risco do
discurso quase historicista da identidade crioula que tem feito também a rota
das migrações.
A
proposta feita aos artistas Abrão Vicente, Bento Oliveira, Diogo Bento (em
parceria com o coletivo Oficina de Utopias), Nenass Almeida e Nuno Pina,
pretendia uma reflexão sobre quem são os estrangeiros hoje no Mindelo, quais as
fronteiras, tangíveis e imateriais, que delimitam a pertença, quantos
territórios existem, como se distingue o eu do outro.
O que os artistas
apresentam vai para lá da identidade nacional e traz para a praça pública
urgências próprias da cidadania, como sejam o emprego, a habitação, a
mobilidade e a identidade cultural ou religiosa.
Trazer
para o Mindelo os trabalhos de Paulo Kapela e Rui Tenreiro, apresentados em
Maputo, nas Ocupações Temporárias 20.12 com o mesmo tema, integrando-os no
circuito da cidade e da exposição, é uma opção pela diversidade de linguagens e
de suportes artísticos, mas também de referências e de vivências, que podem
enriquecer a ’discussão‘ ou, pelo menos, suscitar novos ângulos de observação
da mesma problemática, desde logo um ângulo diferente, porque será desenhado a
partir da rua.
Elisa
Santos
Mindelo,
03/13
segunda-feira, 4 de março de 2013
PASSAPORTE
A
reflexão centra-se no conceito de Identidade (s), sobretudo na Identidade
fragmentada, construída, adquirida, forjada, inventada, do homem contemporâneo,
do cidadão crioulo/global. Denuncia a Identidade e limites da própria língua
como veículo identitário. O passaporte como uma frame, um limite, um guia de
circulação, limites, pertença, territorialidade. As discrepâncias entre as
vivências geográficas e as pertenças históricas; quando o papel da burocracia
na construção de barreiras, de fronteiras não só reais como mentais e simultaneamente,
é a mesma burocracia que suprime as demarcações implícitas, inscritas em cada
documento (por isso a manutenção e exibição nos trabalhos dos carimbos, vistos,
autorização de residência, os prazos de renovação, prorrogação).
Este
trabalho pode ser enquadrado dentro da ideia, e de uma certa leitura de
identidades pós-coloniais, mas ultrapassando o binómio Portugal/Ex-colónias,
proponho a extensão deste trabalho e desta reflexão para um espaço mais global.
Sendo eu Português e Cabo-verdiano de nacionalidade, este é também um trabalho de auto-retrato.
Identidade(s) no Limite de Abraão Vicente será a ocupação temporária do Bar Boaventura, na Rua da Praia
sábado, 2 de março de 2013
ILHA
Almadilha
Chegar à ilha,
Chegar na ilha
No chegar à ilha,
arma-se e armamos a armadilha da ilusão – a ilusão de fragilidade, fruto, talvez, da instabilidade do campo de visão durante o ondular do barco enquanto nós à ilha nos aproximamos; ou talvez da pequeneza, da aridez, da precariedade posta a nu.
Armadilha: a sensação de nudez nobre e nítida do castanho e azul duma paisagem despida e de costelas orgulhosas mas que teimamos em ver vulneráveis, quiçá por serem tão expostas ao olhar. Armadilha, pois o que se afigura aos que a ela aportam como frágil porque estranho e estrangeiro, porque destilador do precário, não é senão o ressoar da precariedade da vida e de vidas, do chão e de chãos, na alma do eu habituado a mundos mais amorfos e que, por isso mesmo, não obrigam à apreensão cabal da sua poética inteira para serem aceites como completos e familiares.
O chegar na ilha, porém,
é o dar-se conta da inteireza do mundo delineado e delimitado pela brusca e às vezes (aos lugares) violenta fronteira entre terra e mar – uma fronteira que vê guerra mas nunca a ocupação dum pelo outro, que é instável mas não frágil, e sim tão sólida e rígida quanto a divisa entre céu e solo, entre pele e ar. O dar-se conta da inteireza dum mundo cuja ideia de si, na realidade e no imaginário, cuja língua, cujo sotaque, cuja identidade é delimitada pela mesma fronteira violenta e prenhe de conflitos mas no entanto absoluta e excludente entre mar e terra, o litoral literal e figurativo.
Jeff Hassney
A viagem de Bento Oliveira que ocupará a Gare do Porto Grande do Mindelo
Subscrever:
Mensagens (Atom)