A Casa Coimbra, com os seus três pisos de habitações, era famosa pelo grande armazém têxtil que ocupava o rés-do-chão e a sobre-loja. Nas montras envidraçadas da frontaria e da entrada do edifício, expunham-se fatos de homem e senhora, tecidos, luvas, e outros acessórios de vestuário e alfaiataria. A Casa Coimbra era, no circuito comercial da baixa, a casa de referência da moda da época.
O edifício, um exemplar da arquitectura do Estado Novo construído em meados do século XX, foi adquirido recentemente pelo Banco de Moçambique e deverá ser demolido muito em breve dando lugar a uma nova construção de mais de vinte pisos.
Reutilizar edifícios ou áreas, construir novas histórias em espaços que fazem já parte da história, preservar memória e “documentos” que possam atestar essa memória, são responsabilidades do estado e das organizações da sociedade. Os artistas, os cidadãos anónimos, ou outros grupos, mais ou menos organizados, têm por isso o direito e a obrigação de intervir e de opinar sobre o destino da sua cidade e dos elementos que a compõem.
O projecto "Ocupações temporárias" tem a sua génese ligada a este edifício. Desde sempre a possibilidade de ocupar a loja da Casa Coimbra nos fascinou, por isso solicitamos ao proprietário a sua utilização, explicando o carácter temporário da mesma.
“(…)Os locais de exposição serão espaços alternativos, espalhados pela cidade e que constituem um roteiro pela cidade e pela sua arquitectura. Gostaríamos de integrar o espaço da Casa Coimbra neste evento e de expor trabalho (desenho) do artista Celestino Mudaulane. Esta escolha prende-se não apenas com o espaço em si (que sabemos está degradado e em vias de sofrer uma intervenção), mas também com a inclusão num roteiro pela baixa da cidade. (…)”
A resposta tardou (chegou após a inauguração da exposição),e foi negativa.
" Matola, 23 de Março de 2010
Exmos Senhores
Ocupações Temporárias
Assunto: “Parceria para Exposição”
Acusamos a recepção da Vossa nota, Refª nº OT20 – 10/006 de 16 de Fevereiro, solicitando a inclusão do espaço Casa Coimbra num roteiro de exposição na baixa da cidade, nomeadamente para expor trabalhos do artista Celestino Mudaulane.
O Banco de Moçambique tem como Política de acção o apoio a iniciativas culturais que visam promover e desenvolver a nossa cultura. Esta iniciativa mereceu neste âmbito a nossa melhor atenção e apraz-nos felicitar a Organização, porém lamentamos não poder acolher a exposição no espaço da Casa Coimbra (…).”
A chamada de atenção para a questão da preservação do património, da discussão pública da sua classificação e utilização, eram o objectivo da intervenção do artista Celestino Mudaulane. A Casa Coimbra era o local escolhido. A impossibilidade de ocupação daquele local não resolveu as questões existentes. Por isso a ocupação “Casa Coimbra” foi realizada num espaço em condições de demolição eminente, de grande acessibilidade para o público e numa zona nobre da cidade.
Agradecemos aos proprietários da ruína da Av. Eduardo Mondlane a disponibilidade e o apoio às “Ocupações Temporárias 20.10”
Fotografias:
Mauro Pinto (cor) e Filipe Branquinho (preto e branco)
Qual é o vosso email de contacto?
ResponderEliminarocupacoestemporaria@gmail.com
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