Na década de 1960, Hélio Oiticica criou o Parangolé, que ele chamava de "antiarte por excelência" e uma pintura viva e ambulante. O Parangolé é uma espécie de capa (ou bandeira, estandarte ou tenda) que só mostra plenamente seus tons, cores, formas, texturas e grafismos, e os materiais com que é executado (tecido, borracha, tinta, papel, vidro, cola, plástico, corda, palha) a partir dos movimentos de alguém que o vista. Por isso, é considerado uma escultura móvel.
O Parangolé só existe, efetivamente, à medida que a pessoa o veste, dando-lhe outras formas, movimento, desenvolvendo uma linguagem própria àquela estrutura, realizando uma performance, onde vestimenta e corpo se complementam.
Com o parangolé, o artista plástico buscou romper com o espaço entre o objeto-de-arte e o espectador, estabelecendo um outro tipo comportamental de arte-movimento (interação-integração).O Parangolé não pode ser exposto como uma pintura convencional. Ele deve ser não apenas visto mas tocado: e não apenas tocado mas vestido. O corpo compõe com o Parangolé que veste uma unidade sempre nova."O ato de vestir a obra já implica uma transmutação expressivo-corporal do espectador, característica primordial da dança, sua primeira condição"
A dança de quem veste o Parangolé não apenas o revela ao espectador que o não o está vestindo, mas principalmente ao dançarino mesmo que, nesse processo, se revele a si próprio” O Parangolé em si constitui o começo e o fim do círculo, a partir do qual o corpo se faz obra e o dançarino, espectador. Talvez possamos dizer que, quando alguém veste um Parangolé, compõe com ele um novo transobjeto. Assim, oriundo da pintura, e em nome da pintura, o Parangolé rompe com a pintura. Trata-se mesmo, uma vez que extrapola do âmbito da visibilidade para o da tactibilidade, de uma antipintura. Nem o seu modo de produção nem o seu modo de exposição nem o seu modo de fruição pertence a qualquer das belas artes tradicionais.
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